Educação e Cultura: o elo que precisamos fortalecer

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Nos últimos meses, o Comitê de Cultura do Distrito Federal tem refletido de forma profunda sobre a urgência de integrar, de maneira real e permanente, os mundos da educação e da cultura. Essa integração foi o foco central de uma escuta ativa online, correalizada com o Sindicato dos Professores do DF, que reuniu professores, arte-educadores, artistas e produtores culturais de diversas regiões do DF. O encontro, mediado por Miguel Ribeiro, coordenador de Mobilização do Comitê, contou com a participação das pessoas para uma conversa franca, aberta e propositiva sobre os desafios e as possibilidades da cultura no ambiente escolar.

Adaptada para o formato remoto, a metodologia “Cartolina e Post-it” estimulou a construção coletiva de ideias e diagnósticos. Em poucas horas, formou-se um mosaico de reflexões que revelou um consenso: é urgente criar pontes duradouras entre o ensino formal e as práticas culturais — e transformar essa conexão em política pública estruturada, e não apenas em iniciativas pontuais.

Educação e cultura não podem andar separadas

O principal ponto de convergência foi o entendimento de que não existe educação integral sem cultura. Hoje, as duas áreas ainda caminham em trilhas paralelas, com pouca comunicação e cooperação entre si. Essa fragmentação enfraquece ambas. É fundamental construir políticas intersetoriais que reúnam secretarias, conselhos e comunidades escolares em torno de um mesmo propósito: garantir o acesso à arte e à cultura como parte essencial da formação cidadã.
Quando a cultura entra na escola, desperta o olhar crítico, o senso coletivo e o respeito à diversidade. Quando a escola se abre à cultura, torna-se viva, criativa e participativa.

Valorização do arte-educador

O debate também abordou a situação dos arte-educadores, profissionais essenciais que ainda enfrentam condições precárias de trabalho e falta de reconhecimento pedagógico. O grupo reforçou a importância de mapear, reconhecer e valorizar esses trabalhadores, com programas de formação continuada, linhas de fomento específicas e concursos que considerem sua formação artística e pedagógica. Valorizar o arte-educador é garantir que a arte permaneça na escola de forma qualificada e transformadora.

Políticas de fomento que deem continuidade

Os participantes destacaram que os mecanismos de financiamento da cultura precisam ser reformulados. A burocracia e a linguagem técnica dos editais acabam afastando quem mais precisa deles. É necessário criar editais mais acessíveis, voltados a processos educativos e trabalhos contínuos, e não apenas a projetos pontuais. A cultura é processo, e processos exigem tempo, acompanhamento e estabilidade.

Conhecimento e dados para agir com precisão

A escuta também revelou a falta de dados integrados sobre agentes culturais e escolas com produção artística. A criação de uma plataforma digital unificada foi proposta como ferramenta essencial para mapear profissionais, espaços e projetos, formando um “mapa de calor” das ações culturais e educativas do DF. Com informação sistematizada, as políticas públicas ganham precisão, transparência e eficiência.

A escola como território de criação

Outro tema recorrente foi a importância de alinhar os projetos culturais ao currículo escolar, evitando ações isoladas e de curto prazo. O grupo sugeriu a criação de protocolos de acolhimento e diagnóstico para integrar as iniciativas culturais às práticas pedagógicas. A arte deve estar presente na rotina da escola como parceira da educação, e não apenas como evento eventual.

Espaços e memória: cuidar do que é nosso

A recuperação e reativação de espaços culturais foi apontada como prioridade. Locais históricos, como a Faculdade Dulcina de Moraes, foram lembrados como símbolos da formação artística e da memória cultural do DF. O Comitê reforça a importância de mapear, defender e reocupar espaços culturais locais, transformando-os em ambientes de encontro e aprendizado.
Também foi destacada a necessidade de preservar a memória e garantir o cuidado com artistas e agentes culturais, com políticas de registro, homenagem e apoio emergencial.

Comunicação e redes locais

O fortalecimento das redes de comunicação e articulação local é outro desafio identificado. Falta diálogo estruturado entre escolas, produtores e secretarias, o que fragiliza a continuidade das ações culturais. O Comitê defende a criação de canais permanentes de comunicação, como boletins informativos, encontros regionais e plataformas colaborativas, capazes de conectar territórios e compartilhar boas práticas.

A escuta ativa demonstrou que há vontade, conhecimento e potência em todos os segmentos envolvidos. Integrar cultura e educação é mais do que uma meta administrativa, é uma necessidade social e civilizatória.
A escola é o primeiro espaço de fruição cultural de uma criança. É onde nascem o encantamento pela arte, a curiosidade pelo mundo e o sentimento de pertencimento.
Unir o palco à sala de aula, o artista ao educador e a sensibilidade à razão é o caminho para uma sociedade mais criativa, justa e humana.

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